Por Danilo José Viana da Silva
A relação de
proximidade e distância que um pesquisador tem com o seu objeto corresponde a
uma questão significativamente relevante. Quando investigamos as práticas dos
alunos de graduação em direito na sala de aula atualmente, por exemplo, não
podemos ignorar as modificações e os efeitos mais diretos que o uso das
chamadas “novas tecnologias” como, por exemplo, os Smartphones e Iphones, podem
engendrar.
Na época em que
cursei a graduação em direito o uso esse tipo de tecnologia, incluindo o uso do
Whatsapp, ainda não estava em um nível tão difundido como hoje. Isso, no mínimo,
basta para deixar de sobreaviso a percepção de um pesquisador que, por achar
que por ter passado pelos ritos e pelas experiências de socialização acadêmicas
na graduação em direito, já sabe ou tem alguma ideia de como as relações e as conversas
entre alunos ocorrem em sala de aula sem fazer o barulho característico dos “cochichos”
que tanto incomodavam grande parte dos professores no momento da aula.
Seria, no mínimo, interessante
se o modo como reagem os professores a esse uso das tecnologias digitais em
sala de aula fosse considerado. Isso possibilitaria se investigar como se dá o
uso do controle professoral das conversas que não fazem barulho; quer dizer, a
própria investigação do exercício do poder simbólico em sala poderia ser
incrementada com a consideração do uso dessas “novas tecnologias” como veículos
de socialização em sala no momento da aula.
A investigação das
mudanças de comportamento engendradas pelo uso das tecnologias digitais requer,
lembraria Cicourel, uma “observação em períodos temporais prolongados”
(CICOUREL, Aaron. Manifestações Institucionais e Cotidianas do Habitus. In.:
Tempo Social, revista de sociologia da USP., V. 19, n. 1. P. 177) do
comportamento tanto dos alunos quanto dos professores.
Uma análise mais
rigorosa do habitus requer, sem dúvida, um trabalho muitas vezes
significativamente difícil, tendo em vista as condições de pesquisa aqui no
Brasil, de ser desenvolvido por um único pesquisador. E o desenvolvimento e uso
dessas tecnologias digitais em sala tendem a engendrar efeitos ignorados por um
pesquisador que, muito embora tenha passado por uma graduação em direito, não
os experienciou enquanto aluno de graduação. Corresponde a novos instrumentos de socialização no
desenrolar da aula.
Esses efeitos
correspondem a modificações nas experiências contemporâneas de socialização
entre os acadêmicos. E uma pesquisa empírica não pode deixar isso de lado, nem
mesmo a título de registro das limitações da pesquisa por não poder ter levado
esse projeto a um nível mais rigoroso. É preciso ter ciência de que sempre é preciso
fazer melhor uma pesquisa.