Por Danilo José Viana da Silva
Livro
interessante, mas que parece ser pouco conhecido por essas bandas. Um dos
pontos que merece destaque é justamente a crítica à imagem idealizada da
pesquisa, a qual é caracterizada pela crença na capacidade de reconstrução lógica
e completa de todos os complexos atos de pesquisa. Ou seja, Kaplan afirma que
boa parte daquilo que constitui uma pesquisa propriamente científica se dá em
uma “lógica-em-uso” ou, como ele algumas vezes chama, “i-lógica-em-uso” que é inapreensível por completo pela reconstrução
retrospectiva e lógica dos atos da investigação. Como ele mesmo chega a lembrar: “os
incidentes mais importantes do drama da ciência são montados em algum lugar por
detrás das cortinas. A ampliação
do conhecimento é, sem dúvida,
básica para a empresa
científica mesmo de um ponto de vista lógico. A reconstrução convencional
oferece o resultado, mas permanecemos ignorantes do enredo. Em segundo lugar,
uma lógica reconstruída não é descrição, mas idealização da prática científica.
Nem mesmo o maior dos cientistas possui um estilo cognitivo que seja inteira e
perfeitamente lógico e a pesquisa mais brilhante continua a trair divagações
que são demasiado humanas.”( KAPLAN, Abraham. A Conduta na Pesquisa: Metodologia para as Ciências do
Comportamento. Trad. Leônidas Hegenberg e Octany Silveira da Mota. – São Paulo:
E.P.U. Ed. da Universidade de São Paulo. 2ª Reimpressão, 1975. P. 12-13) A crença na capacidade da completa
reconstrução lógica dos atos de pesquisa além de reproduzir uma imagem mutilada
da própria pesquisa, acaba contribuindo para se reproduzir tanto a ilusão do
completo esgotamento de tudo o que foi feito (mas também de tudo o que deve ser
feito, tal como acontece com a ilusão do metodologismo, o qual tem como um de
seus efeitos a dogmatização da realização científica) na pesquisa pelo próprio pesquisador quanto
para alimentar a ilusão de que tudo o que acontece na prática científica se dá
de forma bem ordenada e não contraditória. Kaplan mostra a importância de se levar em
conta o modus operandi científico que acaba sendo reduzido, em virtude de um
apego excessivo a lógica reconstruída e a metodologia, a um opus operatum.
Contra o que ele chama de “mito da metodologia” (que consiste em acreditar que
a metodologia é condição suficiente para a realização científica) e a imagem
idealizada da pesquisa (imagem que, mediante a crença na autossuficiência da
lógica reconstruída, acaba ignorando a complexidade da investigação), aqui está
um livro relevante. Em suma, Kaplan argumenta que a pretensão da completa
reconstrução lógica de todo o enredo de uma pesquisa corresponde a uma
reprodução da visão idealizada da lógica da ciência que, por não conseguir
captar aquilo que ela acha que conseguiu, acaba reproduzindo o que seria a
pesquisa em seu refino e pureza, deixando de lado o modus operandi da e na
prática cientifica. Livro interessante,
já está esgotado, mas ainda há alguns na estante virtual.