“A maior parte dos erros a que está exposta tanto a atividade sociológica quanto a reflexão sobre tal atividade encontra sua raiz na representação falsa da epistemologia das ciências da natureza e da relação que ela mantém com a epistemologia das ciências do homem. Assim, epistemologias tão opostas em suas afirmações patentes quanto o dualismo de Dilthey – que só consegue apresentar a especificidade do método das ciências do homem, opondo-o a uma imagem das ciências da natureza suscitada pela mera preocupação de estabelecer distinções – e o positivismo que se esforça por incitar uma imagem da ciência natural fabricada pela necessidade dessa imitação, têm em comum o fato de ignorar a filosofia exata das ciências exatas. Semelhante equívoco levou não só a forjar distinções forçadas entre os dois métodos para agradar às nostalgias ou aos desejos piedosos do humanismo, mas também a aplaudir ingenuamente as redescobertas que se ignoram como tais, ou ainda participar da supervalorização positivista que, de forma escolar, copia uma imagem redutora da experiência como cópia do real.” (BOURDIEU, Pierre; CHAMBOREDON, Jean-Claude; PASSERON, Jean-Claude. Ofício de Sociólogo: metodologia da pesquisa na sociologia. Trad. Guilherme João de Freitas Teixeira. 6ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. P. 16)