Por Danilo José Viana da Silva
Um dos termos mais característicos da vulgata global neoliberal de
desmonte dos programas sociais é “Flexibilização”. Ele corresponde a um
indicador das tomadas de posição no campo político dos mais variados governos
que adotam, com a ajuda de toda uma rede interligada de agentes que se
apresentam com a bandeira da “novidade”, um projeto de precarização do
trabalho. Através da considerável flacidez desses termos, os projetos mais
nefastos para toda a classe de trabalhadores assalariados podem ser eufemizados
e adocicados de acordo com uma vulgada global.
São “termos isolados e aparentemente técnicos
como ‘flexibilité’ [flexibilização] (...) que, por encapsularem e
silenciosamente comunicarem toda uma filosofia de organização individual e social,
adaptam-se bem a funcionar como verdadeiras senhas e lemas políticos (nesse
caso, a necessidade de redução e difamação do Estado, a redução da proteção
social e a aceitação da difusão do trabalho assalariado precário como um
destino, ou melhor, uma benção).” (BOURDIEU, Pierre e WACQUANT, Loïc. A astúcia
da razão imperialista. In.: O mistério do ministério. Ed. Revan. P. 211-212)
Eles funcionam como parte da Meca simbólica a partir da qual o projeto de
imposição do trabalho precário pode ser implementado docemente; eles
correspondem, assim como os termos “simplificação do direito do trabalho”, a
verdadeiros chavões que dissimulam, ainda que mal, todo esse projeto de
política cuja remodelação do Estado está baseada em uma política de
endurecimento da legislação penal e policial (juntamente com as investidas
bélicas do atual Ministro da Justiça que já sinalizou a necessidade de se
investir menos em “pesquisa e mais em armas”), com a precarização do trabalho,
com a redução dos investimentos em educação (com sinalização do atual
Ministério da Educação de cortes de cerca de 45% dos investimentos direcionados
as Universidades Federais e com a suspensão de várias bolsas de estudo tanto do
PIBIC quanto de Mestrado e Doutorado, juntamente com a mais recente sinalização
do atual governo no sentido de suspender
políticas que visavam reduzir os índices de analfabetismo).
Tudo isso muito
bem recheado com os mais diversos escândalos que, decorrentes dos mais diversos vazamentos que
frequentemente pipocam nas mídias virtuais e televisivas onde conversas entre um
senador e ex-ministro com o ex-presidente da Transpetro, apontam claramente que esse acordo travestido
de Impeachment entre os mais diversos regentes dos mundos econômico, midiático, jurídico e
político visa ( além da realização dos
seus próprios interesses custe o que custar)
o “estancamento da Sangria”, como fala um dos interlocutores,
representada pelas investigações e divulgações dos esquemas de corrupção dos
personagens do Congresso Nacional. Essa reconfiguração do campo do poder nada
tem a opor a um verdadeiro projeto que tende a contribuir para a intensificação
da insegurança objetiva e subjetiva das camadas mais pobres.
Com a imposição de
uma imagem do assalariado como um empresário dinâmico de suas próprias
conquistas, verdadeira versão self made man à brasileira. Trata-se de um
projeto que ataca amplamente os setores, ainda que fragilizados, das políticas de
proteção social. São tempos nada engraçados. De fato, “não há motivos para
rir”, como diz Bourdieu a Günter Grass em um debate sobre “a invasão conservadora.”