domingo, 18 de março de 2012

Sobre a sensação da atualidade.




Se o jornal do dia nos interessa a esse ponto, é que ele nos relata fatos atuais, e seria a proximidade desses fatos, não a simultaneidade de seu conhecimento por nós e por outrem, que nos apaixonaria por seu relato. Mas analisemos bem essa sensação da atualidade, que é tão estranha e cuja paixão crescente é uma das características mais nítidas da vida civilizada. O que é reputado “atualidade” é apenas o que acaba de acontecer? Não, é tudo o que inspira atualmente um interesse geral, mesmo que se trate de um fato antigo. Foi “atualidade”, nestes últimos anos, tudo o que concerne a Napoleão; é atualidade tudo o que está na moda. E não é “atualidade” o que é recente mas negligenciado atualmente pela atenção da opinião pública, orientada noutra direção. Durante todo o caso Dreyfus, ocorriam na África ou na Ásia fatos capazes de nos interessar muito, mas foi dito que eles não tinham nada de atual. Em suma, a paixão pela atualidade progride com a sociabilidade, da qual ela não é mais que uma das manifestações mais impressionantes. E como é próprio da imprensa periódica, da imprensa cotidiana sobretudo, só tratar de assuntos de atualidade, não devemos nos surpreender com ver formar-se e estreitar-se entre os leitores habituais de um mesmo jornal uma espécie de associação pouquíssimo notada e das mais importantes.” (TARDE, Gabriel.    A opinião e as massas. Trad. Eduardo Brandão. – 2ª Ed. – São Paulo: Martins Fontes, 2005. P. 8)